Alcácer do Sal é uma das mais antigas cidades da Europa, fundada antes
de 1000 a.C. pelos fenicios. Fornecia sal, peixe salgado, cavalos para exportação e alimentos para os barcos que comerciavam estanho.
Na atualidade, com cerca de 9,100 habitantes, é sede do segundo mais extenso município português, com 1,499.87 km² de área mas apenas 13.046 habitantes (2011) (Fuente: Wikipédia).
Banhada pelo Rio Sado, predominam as atividades agrícolas, sobre tudo cultivos de cereais para grão, olival, prados e pastagens. A pecuária é também uma atividade forte, nomeadamente na criação de suínos, ovinos e bovinos.
De acordo com Rita Balona (2015), arqueóloga na Câmara Municipal de Alcácer do Sal, o cultivo de arroz não se começou a impor em Portugal, em particular na zona de Alcácer, até o inicio do século XX. "Tanto que Alcácer ficou conhecida "por excelência, a região do arroz" (Dr. Nuno Gusmão, 1928)" y gerou um problema sério da insalubridade e palidismo:
"Calcula-se que no pico dos trabalhos nos campos de arroz existia uma concentração de 10 mil assalariados só no concelho de Alcácer. As instalações onde os trabalhadores eram alojados, "cabanas", as condições de higiene, qualidade da água, alimentação e preço e venda das mesmas era bem diferente do que previam. Além disso, trabalhavam num ambiente de águas paradas onde o paludismo assombrava as suas vidas.
Com o ambiente de insegurança no ar, a Guarda Republicana assegurava nos terrenos a pacificação social desses contingentes assalariados".
De acordo com Mónica Saavedra (2013), "Enquanto para a medicina a relação entre malária e arrozais era epidemiológica, sendo os campos de arroz a potencial “causa ambiental” desta doença (Landeiro e Cambournac s. d.), para os trabalhadores rurais o trabalho no arroz era, acima de tudo, um dos símbolos da sua condição social dependente e subalterna, de trabalho árduo e duro, de provações físicas, entre as quais se contava, sem protagonismos, a malária".
Essas condições adversas poderiam ser o terreno fértil para as revoltas e lutas que ocorreram em vários momentos, um dos quais foi a luta das 8 horas de trabalho, em mayo de 1962. De acordo com António Gervásio (2002), "uma conquista histórica do operariado agrícola do Sul":
"Relembrar que, até Maio de 1962, os assalariados agrícolas do Sul (com pequenas diferenças no Ribatejo e na Margem Esquerda do Guadiana) não conheceram outro horário de trabalho no campo que não fosse o escravizante horário de sol a sol, ou seja: pegar ao nascer do sol e despegar ao sol posto. Fazer o caminho de casa para o trabalho e vice-versa, a pé, uma, duas horas (e mais). Não havia transportes, raros eram aqueles que possuíam uma bicicleta a pedal! (...) A mais pequena luta era violentamente reprimida. Muitos milhares de trabalhadores agrícolas foram espancados, presos e alguns assassinados. Privado de direitos sindicais, o proletariado agrícola foi um baluarte de resistência contra a ditadura, uma classe combativa, com um elevado espírito de unidade e de organização.
(...) Logo nos primeiros dias do mês de Maio dezenas de mlhares de trabalhadores conquistaram as 8 horas. Foi no Litoral Alentejano, onde o movimento arrancou com maior força (Grândola, Alcácer, Palma e outras), que mais de 30.000 trabalhadores conquistam, no dia 1 e 2 de Maio, as 8 horas. O poderoso movimento estende-se, nas primeiras semanas de Maio, aos três distritos do Alentejo, ao Ribatejo, por vários concelhos da Estremadura e do Algarve, envolvendo cerca de 200.000 trabalhadores, homens e mulheres (...) Os agrários e a ditadura ofereceram muita resistência, fizeram despedimentos, prisões e espancamentos, deixaram estragar culturas. Promoveram amplas reuniões com a participação dos governadores civis, INT, PIDE e GNR, em Alcácer do Sal, Grândola, Estremoz, Évora e outras, com o objectivo de esmagar a luta pelas 8 horas. Muitos agrários resistiram semanas e meses mas o movimento de massas também resistiu, era mais forte e venceu!"
Essas lutas parecem ter deixado um certo traço na vida dos e das salacienses, que continuam resistindo, agora contra a touristificação de sua bela cidade...
Balona, Rita (2015). Pequena História do Arroz no Concelho de Alcácer do Sal. ATLAS do Sudoeste Alentejano. https://www.academia.edu/16868934/Pequena_Hist%C3%B3ria_do_Arroz_no_Concelho_de_Alc%C3%A1cer_do_Sal
Gervásio, António (2002). As 8 horas de trabalho no campo!. O Militante, 259. http://dorl.pcp.pt/index.php/histria-do-pcp-menumarxismoleninismo-103/85-momentos-da-historia-do-pcp/226-as-8-horas-de-trabalho-no-campo
Saavedra, Mónica (2013). Malária, mosquitos e ruralidadeno Portugal do século XX. Etnográfica, 17(1), 51-78. https://www.academia.edu/28800764/Mal%C3%A1ria_mosquitos_e_ruralidade_no_Portugal_do_s%C3%A9culo_XX
Na atualidade, com cerca de 9,100 habitantes, é sede do segundo mais extenso município português, com 1,499.87 km² de área mas apenas 13.046 habitantes (2011) (Fuente: Wikipédia).
Banhada pelo Rio Sado, predominam as atividades agrícolas, sobre tudo cultivos de cereais para grão, olival, prados e pastagens. A pecuária é também uma atividade forte, nomeadamente na criação de suínos, ovinos e bovinos.
De acordo com Rita Balona (2015), arqueóloga na Câmara Municipal de Alcácer do Sal, o cultivo de arroz não se começou a impor em Portugal, em particular na zona de Alcácer, até o inicio do século XX. "Tanto que Alcácer ficou conhecida "por excelência, a região do arroz" (Dr. Nuno Gusmão, 1928)" y gerou um problema sério da insalubridade e palidismo:
"Calcula-se que no pico dos trabalhos nos campos de arroz existia uma concentração de 10 mil assalariados só no concelho de Alcácer. As instalações onde os trabalhadores eram alojados, "cabanas", as condições de higiene, qualidade da água, alimentação e preço e venda das mesmas era bem diferente do que previam. Além disso, trabalhavam num ambiente de águas paradas onde o paludismo assombrava as suas vidas.
Com o ambiente de insegurança no ar, a Guarda Republicana assegurava nos terrenos a pacificação social desses contingentes assalariados".
De acordo com Mónica Saavedra (2013), "Enquanto para a medicina a relação entre malária e arrozais era epidemiológica, sendo os campos de arroz a potencial “causa ambiental” desta doença (Landeiro e Cambournac s. d.), para os trabalhadores rurais o trabalho no arroz era, acima de tudo, um dos símbolos da sua condição social dependente e subalterna, de trabalho árduo e duro, de provações físicas, entre as quais se contava, sem protagonismos, a malária".
Essas condições adversas poderiam ser o terreno fértil para as revoltas e lutas que ocorreram em vários momentos, um dos quais foi a luta das 8 horas de trabalho, em mayo de 1962. De acordo com António Gervásio (2002), "uma conquista histórica do operariado agrícola do Sul":
"Relembrar que, até Maio de 1962, os assalariados agrícolas do Sul (com pequenas diferenças no Ribatejo e na Margem Esquerda do Guadiana) não conheceram outro horário de trabalho no campo que não fosse o escravizante horário de sol a sol, ou seja: pegar ao nascer do sol e despegar ao sol posto. Fazer o caminho de casa para o trabalho e vice-versa, a pé, uma, duas horas (e mais). Não havia transportes, raros eram aqueles que possuíam uma bicicleta a pedal! (...) A mais pequena luta era violentamente reprimida. Muitos milhares de trabalhadores agrícolas foram espancados, presos e alguns assassinados. Privado de direitos sindicais, o proletariado agrícola foi um baluarte de resistência contra a ditadura, uma classe combativa, com um elevado espírito de unidade e de organização.
(...) Logo nos primeiros dias do mês de Maio dezenas de mlhares de trabalhadores conquistaram as 8 horas. Foi no Litoral Alentejano, onde o movimento arrancou com maior força (Grândola, Alcácer, Palma e outras), que mais de 30.000 trabalhadores conquistam, no dia 1 e 2 de Maio, as 8 horas. O poderoso movimento estende-se, nas primeiras semanas de Maio, aos três distritos do Alentejo, ao Ribatejo, por vários concelhos da Estremadura e do Algarve, envolvendo cerca de 200.000 trabalhadores, homens e mulheres (...) Os agrários e a ditadura ofereceram muita resistência, fizeram despedimentos, prisões e espancamentos, deixaram estragar culturas. Promoveram amplas reuniões com a participação dos governadores civis, INT, PIDE e GNR, em Alcácer do Sal, Grândola, Estremoz, Évora e outras, com o objectivo de esmagar a luta pelas 8 horas. Muitos agrários resistiram semanas e meses mas o movimento de massas também resistiu, era mais forte e venceu!"
Essas lutas parecem ter deixado um certo traço na vida dos e das salacienses, que continuam resistindo, agora contra a touristificação de sua bela cidade...
Referências bibliográficas:
Balona, Rita (2015). Pequena História do Arroz no Concelho de Alcácer do Sal. ATLAS do Sudoeste Alentejano. https://www.academia.edu/16868934/Pequena_Hist%C3%B3ria_do_Arroz_no_Concelho_de_Alc%C3%A1cer_do_Sal
Gervásio, António (2002). As 8 horas de trabalho no campo!. O Militante, 259. http://dorl.pcp.pt/index.php/histria-do-pcp-menumarxismoleninismo-103/85-momentos-da-historia-do-pcp/226-as-8-horas-de-trabalho-no-campo
Saavedra, Mónica (2013). Malária, mosquitos e ruralidadeno Portugal do século XX. Etnográfica, 17(1), 51-78. https://www.academia.edu/28800764/Mal%C3%A1ria_mosquitos_e_ruralidade_no_Portugal_do_s%C3%A9culo_XX
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