Avançar para o conteúdo principal

A CIDADE. Poema de José Carlos Ary dos Santos en veu de José Afonso

A CIDADE
Poema de José Carlos Ary dos Santos

A cidade é um chão de palavras pisadas
A palavra criança, a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
A palavra distância e a palavra medo.

A cidade é um saco um pulmão que respira
Pela palavra água, pela palavra brisa.
A cidade é um poro, um corpo que transpira
Pela palavra sangue, pela palavra ira.

A cidade tem praças de palavras abertas
Como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
Como jardins mandados arrancar.

A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
Não há rua de sons que a palavra não corra
À procura da sombra duma luz que não há.

Mais poemas de José Carlos Ary dos Santos:
http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/ary.dos.santos.html

José Afonso canta este belo poema em seu álbum "Contos velhos rumos novos". Pode ser ouvido aqui, neste vídeo:



Comentários

Mensagens populares deste blogue

O Serviço Cívico Estudantil e Michel Giacometti

Embora Michel Giacometti seja mais conhecido por seu trabalho "Povo que canta", o projeto que ele coordenou do serviço cívico estudantil foi uma fonte de inspiração para começar a trabalhar em 1995 em alguns projetos de pesquisa e dinamização da comunidade usando a ferramenta histórias orais . No auge da efervescência desencadeada pela Revolução dos Cravos (o Revolução de 25 de Abril), 124 adolescentes, de ambos os sexos, passam o Verão de 1975 dedicados a uma acção concertada de recolha de cultura popular, em resposta a um apelo de Michel Giacometti. Foram ministradas as noções básicas de trabalho de campo num curso intensivo de 8 dias, e depois, equipas de quatro estudantes pesquisaram 90 localidades em três meses, três localidades por equipa. "O Serviço Cívico Estudantil foi possibilitado através do Decreto-Lei N.º 270/75 de 30 de maio. O programa pretendia assegurar aos estudantes uma melhor “integração na sociedade portuguesa e um mais amplo contacto com os...

Oralidade no Alentejo: fim da estada

O estado de alarme da covid19 nos forçou a encerrar a pesquisa muito antes do planejado. Em vez de terminar em 12 de junho, tivemos que retornar em 17 de março, com grandes dificuldades em atravessar a fronteira por Elvas-Badajoz para chegar a Sevilha, onde devemos permanecer confinados. Esperamos poder voltar mais tarde para aprofundar a oralidade e as culturas populares no Alentejo e e compará-las com Andaluzia e País Basco. Apreciamos os passeios, as visitas e as refeições, e o trabalho nas bibliotecas da Universidade de Évora e no Museu do Trabalho de Setúbal nos ajudou a enriquecer as referências bibliográficas de um artigo sobre histórias orais que concluiremos em breve. Continuaremos a reflectir e aprofundar sobre a oralidade e as culturas populares. Algumas das reflexões que trazemos desajeitadamente a este blog nos acompanharão na conferência de 10 de julho do curso de verão "Didática da oralidade e da criação cultural oral" na Universidade do País Basco. Gosta...