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Pesquisando na estada académica en Évora: algumas descobertas

Nas primeiras semanas de pesquisa em Évora, encontramos algumas idéias importantes para desenvolver conceitos de oralidade e culturas populares.

Na primeira semana, além de localizar e iniciar a estada académica, começamos a visitar a biblioteca da Universidade de Évora. Graças à ajuda do bibliotecário, encontramos alguns livros que nos dão idéias interessantes.


Yves-René Fonqueme, Alfonso Esteban (1986). Culturas populares: diferencias, divergencias, conflictos. Madrid: UCM.

Neste livro coletivo, gostaria de destacar o artigo de Honorio M. Velasco: Sobre los procesos de la tradición oral: las adivinanzas, mediaciones de poder y de saber (pp. 171-184):

"Las adivinanzas se juegan y los refranes se dicen (...). Desde una etnografía del lenguaje queda de manifiesto que todo locutor de adivinanzas dispone de un repertorio más o menos amplio, que constituye una cierta colección y algunos locutores intencionadamente las acumulan y retienen (a veces por escrito) (…) Lo que resulta artificial es referirse al pueblo como sujeto de tradición oral (…) No es la comunidad local, sino redes sociales que incluyen vinculaciones familiares (y de parentesco), vecinales y de amistad. La intervención de distintas vinculaciones es diferencial, o puede serlo, para los distintos géneros de tradición oral. En el caso de las adivinanzas es mayor la diversidad de vinculaciones que en el de los refranes" (Velasco, 1986, pp. 172-173).

"Enigmas são jogados e os provérbios são ditos (...). A partir de uma etnografia da linguagem, fica claro que todo locutor de enigmas tem um repertório mais ou menos amplo, que constitui uma certa coleção e alguns palestrantes os acumulam e retêm intencionalmente (às vezes por escrito) (...) O que é artificial é referir-se para o povo como sujeito da tradição oral (...) Não é a comunidade local, mas as redes sociais que incluem laços familiares (e parentesco), vizinhança e amizade. A intervenção de diferentes vínculos é diferencial, ou pode ser, para diferentes gêneros da tradição oral. No caso de enigmas, a diversidade de ligações é maior do que no caso de provérbios".

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A figura do Tonto ou Gracioso representado pelo Sr. Domingos Fernandes (Tiu Domingões)
Foto do Arquivo António Maria Mourinho (Fonte: memoriamedia.net)

Bernardino Barbosa (2000). Contos populares de Évora. Lisboa: Aríon Publicações

A introdução é de Rui Arimateia, um um autor que chamou nossa atenção para a abordagem interessante que ele lida:
Rui Arimateia
“Contar um conto é um acto de comunicaçãom quiçá de comunhão, com o outro e com nós próprios. É um acto de cura e de auto-cura… onde todo o nosso ser se encontra presente no acto. É um acto que compromete os sujeitos em comunicação e vai criar as condições para que aconteça o auto-conhecimento.

Nestes tempos que correm faz-se urgente a criação de relações autênticas e profundas entre os próprios sujeitos em comunicação sendo, por outro lado, imperiosa a negação consciente da relação sujeito-objecto. Quem conta, quem escuta, são ambos sujeitos… E nesta prática, nesta práxis de contar um conto, a Poética, a Infancia, o Mito, o Símbolo e o Sonho tornam-se factores importantíssimos para a esto de uma personalidade verdadeiramente humana, harmoniosa e criadora" (Arimateia, 2000, p. 11).

"No fundo, importa menos o enredo da narração, o que é realmente importante é aquele presente acto de contar e de escutar um conto. O que importa é a relação que se establece —autêntica e plena de significado entre dois ou mais seres humanos. Relação complexa, poética, intimista, trasnmissora de experiências vivenciais, muito fortes imageticamente" (Arimateia, 2000, p. 12).

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Rui Arimateia (Coord.) (2011). Oralidades: ao encontro de Giacometti. Lisboa: Ed. Colibrí.

Este é, talvez, um dos livros essenciais que encontramos, tanto em Évora como em Setúbal. O trabalho realizado pela equipe de pesquisa da Giacometti (filme O Alar da Rede, Giacometti, 1962) terá um cargo específico (ou talvez mais). Um ótimo encontrar este livro.

Rui Arimateia (2011). O projecto Oralidades: um projecto europeu. In Rui Arimateia (coord.), Oralidades: ao encontro de Giacometti (pp. 9-13). Lisboa: Ed. Colibrí.

Link para o Centro de Recursos da Tradição oral de Évora (inativo desde 2010). A itinerância da exposição Michel Giacometti: 80 anos 80 imagens
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Luísa Tiago de Oliveira (2011). O mundo rural descoberto por estudantes na cojuntura revolucionária portuguesa. In Rui Arimateia (Coord.), Oralidades: ao encontro de Giacometti, (47-63). Lisboa: Ed. Colibrí.

Esta investigadora chamou nossa atenção com um artigo que encontramos por coincidência, chamado "Uma história oral em Portugal". Referência bibliográfica:

Oliveira, L. T. D. (2010). A história oral em Portugal. Sociologia, problemas e práticas, (63), 139-156. http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0873-65292010000200008

"Desde que aportou a Portugal em 1959 e até à sua morte em 1990, o percurso de Michel Giacometti passou por várias fases. Neste artigo, é duma delas que vou tratar: a fase da esperança, sentimento que, se no tempo anterior a 1974 norteava a sua accção e perspectivava o futuro, depois do 25 de Abril se alargou e passou a ser uma realidade presente, configurando um tempo em que os possíveis eram muitos e passavam por acções quotidianas" (p. 47).

Havia uma clara abertura para falar da sexualidade em meios rurais e uma certa tolerância para com as práticas sexuais não legitimadas pelo casamento que não esperavam. Outro aspecto, o problema religioso (…) Já no Sul também houve descobertas mas sim devidas ao carácter ténue das práticas religiosas. Nas aldeias de Montalegre, Graça admirou-se com as formas de religiosidade poco “devotas”, apesar dos barrosões terem em mais consideração os sacramentos religiosos do que os civis. Eis como, anos mais tarde, delas se recordou:
A forma como eles estavam ligados à igleja era uma forma (…) muito desafogada (…). Eles (…) tinham diálogos com Deus quando as batatas que colhiam não os satisfaziam, quando estavam para apareces as chuvas, estavam sempre a insultar Deus, sempre, assim uma coisa impressionante (…). E depois eu achava engraçado porque eles tinham uma relação muito desprendida com a Igleja, muito desprendida mesmo, eu achei isso. Eu achava curiosíssimo (…), não tinha nada a ver com aquilo para que eu estaria preparada, eu estaria preparada para tudo menos para isso. Não sei se se lhe pode aplicar o termo religiosidade. (…) Não era aquela devoção, aquela ligação [como que interior a Igleja que muitas vezes tu pensas que, em sítios menos desenvolvidos, podias encontrar”.

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Alcácer do Sal
Embora essas anotações possam parecer aleatórias, todas elas estão relacionadas ao aprofundamento do estudo sobre oralidade e culturas populares que estamos realizando em Portugal. Pouco a pouco, mostraremos relações entre essas anotações e nossas investigações!!!



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